Corpo pequeno, menus amigáveis, zoom do kit que chia a f/6.3. E, no entanto, leve-o para a escuridão e ele começa a sussurrar ideias diferentes.
Lembro-me da primeira vez que apontei um para a Via Láctea. O campo estava húmido, o tripé afundado na lama e a lanterna do telemóvel sempre a estragar-me a visão noturna. Uma raposa ladrava algures junto à sebe e, por um instante, perguntei-me porque não tinha ficado em casa com uma chávena de chá. Então o primeiro RAW apareceu no ecrã: uma fita de estrelas sobre uma aldeia adormecida, limpo e estranhamente confiante para uma câmara tão leve. Olhei em volta, como se alguém me pudesse apanhar a sorrir. Talvez este pequeno corpo seja mais corajoso do que parece. Curioso, não é?
Porque é que a Canon EOS R50 V merece uma noite sob as estrelas
O encanto começa pelo corpo. É realmente leve, o que conta quando se está a caminhar até um local escuro ou a montar um star tracker com carga limitada. Esse corpo leve permite usar o tracker com menos contrapeso e é mais gentil para um tripé compacto às 2 da manhã.
O sensor é um APS-C de 24,2MP que tem sido silenciosamente fiável na linha recente da Canon. A ISO 800–3200, oferece ficheiros limpos, com grão suave e cor recuperável nas sombras. Na prática, isso traduz-se em exposições de 15–20 segundos a f/2.8 com estrelas bem definidas, desde que a objetiva colabore.
Não há estabilização no corpo, o que parece decisivo até se lembrar que a maioria da astrofotografia acontece com o tripé ou tracker fixos. Menos massa móvel pode até ser uma vantagem para exposições longas. A R50 V também grava RAW a 14 bits, e os ficheiros reagem bem ao stacking, com os hot pixels a acalmarem após alguns dark frames no seu fluxo de trabalho.
Peguemos no foco. O live view ampliado da R50 V é suficientemente nítido para acertar no foco das estrelas brilhantes e o peaking ajuda quando se trabalha com objetivas manuais. O Dual Pixel AF não conta muito à meia-noite, mas o guia de foco e a ampliação limpa sim.
Testei também o modo time-lapse para rastros de estrelas: prático e com resultados honestos. A bateria pequena preocupa no inverno, mas um powerbank USB-C PD mantém-na carregada entre sequências. Sejamos sinceros: ninguém faz isto todas as noites.
Depois há a escolha de objetivas. A RF 16mm f/2.8 STM é uma companheira económica fácil de gostar num tracker, mesmo que repare em algumas aberrações nos cantos a grandes aberturas. Com um adaptador EF–RF, clássicos como a Samyang 14mm f/2.8 ou a EF 50mm f/1.8 abrem uma biblioteca maior e mais barata para mosaicos de céu profundo e campos estrelados.
Como configurar a R50 V para céus noturnos honestos e nítidos
Comece com uma base de exposição simples: modo manual, RAW, redução de ruído para exposições longas desligada se for fazer stacking. Use ISO 1600 a f/2–f/2.8 e a aproximação NPF para o tempo de obturador: cerca de 15–20 segundos em 16mm, ou 8–12 segundos em 24mm, para manter as estrelas bem definidas. Balanço de brancos para 4000K para pré-visualização neutra; mais tarde afina ao gosto.
Trave o foco em live view ampliado numa Vega, Altair ou luz distante de uma torre, depois coloque fita na anilha. Dispare um pequeno burst de 20–60 imagens para stacking com o temporizador de dois segundos ou disparador remoto. Num tracker como o Star Adventurer, baixe o ISO para 800 e aumente para 60–120 segundos, de olho no histograma a deslocar-se para a direita sem cortar estrelas brilhantes.
O frio esgota baterias, por isso, leve sobressalentes no bolso e proteja o corpo do vento com o casaco entre sequências. Uma verdade emocional: todos já passámos pelo momento em que as nuvens chegam logo após a montagem. Respire, recomece e fotografe o primeiro plano enquanto espera.
Cuidado com o zoom do kit. A f/6.3 sob um céu Bortle 5, os campos de estrelas perdem força. Troque por uma objetiva fixa luminosa ou adapte uma grande angular EF e verá a Via Láctea despertar. Se a poluição luminosa aumentar, experimente um filtro de encaixe suave para bloquear sódio e LEDs, e corrija a cor no pós-processamento para evitar céus azul-esverdeados.
Vigie o aquecimento nas sequências longas de verão. Disparos mais curtos com pausas entre séries mantêm o sensor consistente para stacking. E não persiga mitos de ISO: nas Canon recentes, o ISO prático para astro ronda os 800–3200, sendo a exposição mais dependente do obturador e da abertura do que de “números mágicos”.
Os ficheiros da R50 V adoram stacking. Em Siril ou DeepSkyStacker, calibre com 15–30 darks, 20–30 flats e alguns bias para cantos limpos. Um estiramento suave, um toque de calibração de cor, e o ruído desaparece com uma textura surpreendentemente fílmica.
“A melhor câmara para astrofotografia é a que realmente leva para o campo escuro à meia-noite.”
- Escolha de objetivas: RF 16mm f/2.8 para céu aberto, EF 24mm f/1.4 (adaptada) para núcleos da Via Láctea, EF 50mm f/1.8 para nuvens de estrelas densas.
- Workflow: dispare em RAW, faça stacking de 30–100 fotogramas, calibre, estique e depois aplique uma redução de ruído subtil.
- Energia: leve um powerbank PD e um cabo USB-C curto; menos peso, mais fotos.
Onde esta câmara ‘improvável’ encaixa na sua jornada de astrofotografia
A R50 V não é especialista. Esse é o objetivo. É uma câmara que permite experimentar sem transportar meio estúdio, e os seus ficheiros aguentam desde que tratados com cuidado. Há espaço para crescer para trackers, filtros e objetivas adaptadas, e o corpo não o limita nos primeiros passos.
Já usei equipamentos full-frame mais caros, melhores em gama dinâmica e controlo de coma, e continuo a ter um carinho especial por este corpo. É aquela que se atira para a mochila numa saída espontânea para ver as Perseidas ou numa manhã gelada com Vénus sobre as sebes. A câmara não reclama, simplesmente faz o seu trabalho.
É isso que a torna interessante para apaixonados pelo céu que também fotografam o dia a dia. Pode gravar um vlog descontraído de manhã, depois apontar a Cygnus ao anoitecer e encontrar um novo enigma nos ficheiros. A RF 16mm f/2.8 é uma pechincha, o corpo é acolhedor e a noite generosa para quem aparece.
| Ponto-chave | Detalhe | Interesse para o leitor |
| Portabilidade | Corpo leve adapta-se a trackers e tripés compactos | Menos peso para transportar, exposições longas mais estáveis |
| Workflow | RAW 14 bits, stacking sólido com frames de calibração | Fotos mais limpas da Via Láctea sem comprar novo sensor |
| Estratégia de objetivas | RF 16mm f/2.8 ou fixas EF adaptadas pela velocidade | Céus mais brilhantes, obturadores mais curtos, estrelas mais nítidas |
FAQ:
- A R50 V é “suficiente” para a Via Láctea? Sim. Com uma objetiva luminosa e stacking básico, produz imagens nítidas e imprimíveis da Via Láctea sob bons céus.
- Que ISO devo usar à noite? Comece em ISO 1600 e adapte à objetiva e brilho do céu; 800–3200 cobre quase todos os cenários neste sensor.
- A ausência de IBIS arruína a astrofotografia? Não. Astro usa tripés e trackers. Sem IBIS há menos componentes móveis durante exposições longas.
- Que objetiva inicial combina melhor para astro? A RF 16mm f/2.8 STM é o caminho mais fácil; adapte uma EF 50mm f/1.8 para campos estelares densos e constelações.
- Posso alimentá-la durante a noite? Use um powerbank USB‑C PD entre sequências ou uma bateria dummy para sessões longas no frio.
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